Quem conhece, há de concordar: Ouro Preto é uma cidade única não apenas pela história que carrega ou por abrigar o maior conjunto arquitetônico do barroco brasileiro. Em suas vielas, casarões, seja em sua metade jacuba ou mocotó, em sua beleza central ou nos morros e distritos que a permeiam, a cidade respira arte. f2a1x
E em suas mais variadas formas, recebe eventos culturais que só reforçam essa pluralidade. Como é o caso do Festival de Inverno, Tudo é jazz, Festival de Cinema, Fórum das Letras, Mimo, além de recorrentes shows ao vivo.
São tantos registros incríveis que fica até difícil listar os mais memoráveis.
Ainda assim, esse texto pretende relembrar alguns dos momentos musicais mais marcantes que levaram à cidade muito mais do que um show. Acompanhe conosco e, claro, sinta-se livre para comentar, discordar e compartilhar também os seus favoritos
1 | Skank e o Ao vivo MTV 3u2f3h
Seria impossível abrir esta lista com outro nome. Afinal, os shows que aconteceram nos dias 7 e 8 de julho de 2001, na Praça Tiradentes, são muito mais que o primeiro registro ao vivo da banda mineira. Literalmente, era a consolidação do Skank como um dos maiores nomes do rock brasileiro e o mais importante de Minas daquela geração.
E Samuel, como o hitmaker nato que sempre foi, levou a multidão ao êxtase e ainda criou um momento que se repetiria nas duas décadas seguintes em todo show do Skank: ao pedir para que a plateia tirasse a camisa e rodasse, ele contornou com classe a 4ª repetição da música “Três lados”, que exigiu à banda tocá-la de novo.
Uma curiosidade do show é que a versão em CD, mais compacta, teve como segundo single (após Acima do sol), Ali. Porém, a música originalmente gravada para o álbum “Maquinarama” não foi tocada em nenhuma das noites. A versão que consta na mídia, provavelmente, foi registrada em um outro show, no Palácio das Artes, em BH.
2 - Paula Fernandes no auge de tudo 4s1p56
Muitos que ainda acompanham a carreira da mineira de Sete Lagoas, Paula Fernandes, costumam dizer que ela se perdeu na tentativa de fazer parte do tão popular “feminejo”. Isso porque, mesmo tendo despontado para a fama antes de artistas como Marília Mendonça ou Naiara Azevedo, Paula sempre teve um estilo menos intenso e mais sutil do que os principais nomes do gênero.
Mas se seu reposicionamento na mídia tem gerado polêmica, para os ouro-pretanos que estiveram na Praça Tiradentes em 7 de julho de 2011, um fato não se discute: aquele foi, possivelmente, o maior público que qualquer artista já levou para o coração da cidade.
Na ocasião, Ouro Preto comemorava 300 anos. E bem, se no Skank o local parecia cheio de ponta a ponta, pergunte a quem quis ver a Paula Fernandes. Até mesmo as ruas transversais como a Direita e a Rua do Ouvidor estavam sem espaço para se caminhar.
Comparados aos dois primeiros nomes da nossa lista, a dupla de rock rural e responsável por canções como Dona, Caçador de Mim e Casa no Campo podem gerar estranheza em alguns o fato de figurarem aqui. Mas o motivo se explica porque foi o primeiro show dos dois após a morte de Zé Rodrix.
Rodrix pulou fora do trio que montaram no fim dos anos 60, num distante 1974. E retornou para gravarem juntos só em 2001.
Porém, em 2008, ano do show no Festival de Inverno de Ouro Preto, eles haviam lançado “Amanhã”. Ou seja, aquele foi o primeiro show após a morte de Zé Rodrix, dois meses antes do evento. Quem estava lá, presenciou a emoção da perda do amigo e um repertório da mais alta classe. Infelizmente, não encontramos registro do show.
4 - Mart'nália e Madeleine Peyroux num mix atípico 3u734m
Aqui temos uma bela surpresa até mesmo para os que são familiarizados com a proposta do Tudo é jazz. Contudo, surpresa aqui é uma palavra totalmente positiva já que, com o mesmo talento e versatilidade herdados do pai, Mart'nália tem uma facilidade de transitar (sem nunca soar deslocada) em diferentes universos musicais.
E pra deixar tudo mais incrível, a parceria improvável das duas foi para homenagear Billie Holiday, Acredite, poucas vezes o Largo do Rosário soou tão classudo, brasileiro e universal ao mesmo tempo.
Por cerca de 2 anos, a parceria musical de Pedro Luis e Ney Matogrosso deixou estúdios e álbuns de lado e tomou forma em cima do palco. Para isso, a banda que acompanha Pedro Luís foi convocada e, juntos, lançaram em 2006 o elogiadíssimo disco Vagabundo.
Logo, ao considerar uma turnê inédita e que teve apresentações bastante limitadas, colocar o show realizado durante o Festival de Inverno de 2006 é necessário. No mínimo, pode-se afirmar que ele colocou Ouro Preto em uma rota exclusiva e diferenciada de cidades que assistiram Ney e Pedro ao vivo.
6 - Elza Soares e a turnê do renascimento 93h5t
O show da turnê do álbum “Do Cóccix Até o Pescoço” foi apresentado na íntegra por Elza Soares no Festival de Inverno de Ouro Preto em 2002. E o que o torna digno de figurar nesta lista é o contexto do disco e da turnê que, em resumo, marcou o renascimento musical de Elza.
Logo, se nos últimos anos Elza nos brindou com canções e obras incríveis como “A mulher do fim do mundo”, é possível afirmar que Ouro Preto viu de perto essa reinvenção artística, enquanto ainda nascia.
7 - Racionais MC’s e a tragédia maior do que arte 69276
Em setembro de 2017, os Racionais MC's realizaram um show em Ouro Preto como parte da turnê que iniciava a comemoração de 20 anos da banda. Contudo, o espetáculo poderoso e musicalmente forte da banda ficou sem espaço para ser reverenciado porque outra notícia ocupou todos os veículos de comunicação da cidade.
Igor Arcanjo Mendes, um jovem de 20 anos, foi morto por um policial militar enquanto se dirigia ao show com amigos, numa abordagem que resultou no disparo fatal. Não fosse essa tragédia injustificável, a presença dos Racionais neste top 10 traria ao público do show apenas a certeza de que puderam presenciar uma noite memorável.
8 - Madredeus e o encanto português o2d5e
A banda portuguesa Madredeus, durante o festival Mimo de 2013, mostrou classe e erudição ao apresentar seu show “Haja o que houver” no adro da igreja São Francisco de Assis. Numa mistura de música tradicional, folclórica e fado, o grande destaque foi para a voz etérea e belíssima de Beatriz Nunes, que tinha a difícil missão de assumir o posto após a saída de Teresa Salgueiro.
Porém, apesar da mudança, o repertório permaneceu fiel ao legado do Madredeus, que revisitou clássicos de todas as fases de sua carreira e foi elogiado pela crítica especializada como o grande destaque do MIMO naquele ano.
9 - Fernando, Sorocaba e um palco literalmente monumental 524h5n
Encerrando as festividades em comemoração aos 312 anos de Ouro Preto, o dia 9 de julho de 2023 ficará marcado na história da cidade como a data em que seu principal monumento deixou de ser ponto turístico e se tornou palco. Afinal, para coroar uma apresentação cheia de hits e cativante, a dupla sertaneja Fernando e Sorocaba protagonizou uma interação peculiar com o público.
Durante a execução da música “Saudade da minha terra”, enquanto Fernando cuidava dos acordes no violão, Sorocaba se juntou à plateia que estava em cima do Monumento à Tiradentes e protagonizou uma cena memorável junto dos fãs, que retribuíram com um coro espontâneo durante clássicos da dupla como “Até o final” e “Paga pau”.
10 - A última folia do Molejo 106of
Chega a ser dificílima a tarefa de contabilizar quantas vezes o público ouro-pretano viu o Molejo ao vivo. Isso porque, ao longo de mais de uma década, Anderson e companhia se tornaram presença recorrentes em eventos na cidade.
Oficialmente, o primeiro registro é de 2013 no Bloco da Praia, mas eles também já animaram o Bloco K-lango doido (2015), Cabrobró (2018) e o Projeto Moletchan (também em 2018). Além disso, tocaram por vários anos seguintes em bailes de formatura da UFOP e na cervejada de calouros.
Contudo, o grupo de pagode figura nesta lista com o show de encerramento do Carnaval de 2024, em 13 de fevereiro. Nele, o vocalista Anderson se apresentou sentado devido a problemas de saúde, mas o fato não impediu que a energia característica do grupo se mantivesse em alta.
Anderson viria a falecer pouco mais de dois meses depois, aos 51 anos, após uma longa batalha contra um câncer inguinal, não sem antes deixar para Ouro Preto mais um registro histórico de alegria e diversão para os fãs de pagode.
Outros nomes que podiam estar nesta lista 522v1r
Como todos sabemos, listas são sempre polêmicas e íveis de discussão. E com esta, não é diferente. Durante a apuração dos nomes que estariam neste artigo, foi cogitado incluir artistas como Marina de La Riva (2019), Alceu Valença e Orquestra Ouro Preto, Milton Nascimento na turnê “Tambores de Minas” (1998), Los Hermanos na turnê “4” (2006), Thiago Pethit tocando canções dos filmes de David Linch (2013), Raça Negra (2014), entre outros. Cada um, a seu modo, possuem motivos únicos que os justificariam na lista.
De curiosidade, precisamos citar que, por falta de registros confiáveis, apresentações anteriores à década de 2000 não puderam ser incluídas. Daí a ausência de alguns shows que ainda povoam o imaginário dos ouro-pretanos como o 14 Bis no Morro da Forca (no final dos anos 1980), Sérgio Reis em 2004, durante campanha eleitoral e até mesmo uma polêmica dos anos 1990 envolvendo o palhaço Bozo que, no meio de um show em Saramenha, teria tirado maquiagem e roupa e começado a fazer pregação religiosa.
Por isso, mais do que apresentar o top 10, agora queremos saber de você:
Qual foi o seu show inesquecível em Ouro Preto e porquê?
Wendell Soares é jornalista, escritor, redator SEO e pós graduado em Marketing Digital. Mas, à parte do que vive aprendendo, se mantém apaixonado pelo que consegue sentir. Na música, na literatura, nos filmes de terror, no dia a dia com seus gatos e nas viagens pelo mundo. Tem por hábito nunca dispensar boa comida, prosa e indicações musicais.
Nasceu em Ipatinga, cresceu em Ouro Branco mas fez de Ouro Preto o seu canto favorito no mundo. Pra onde volta sempre que precisa lembrar dos dias mais felizes da sua vida.
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